terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O (NOSSO) JÁ VELHO LICEU

Não resistimos à tentação de transcrever o texto escrito pelo nosso antigo colega e jornalista do “Diário do Alentejo, Francisco Pratas, publicado no dia 21 de Outubro de 2005.

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de cordel 

O (nosso) já velho Liceu



Um qualquer dia do mês de Junho do ano de 1937, foi inaugurado em Beja o Liceu Novo da cidade, como os mais adultos da população o denominavam.


E o Liceu Novo, era a menina dos olhos dos bejenses, tão surpresos estavam com a imponência da obra, coisa nunca vista por estas bandas, admitindo-se mesmo que tal só aconteceu por mor de um erro de localização do respectivo Ministério, que atribuiu o projecto para construção do supra dito estabelecimento à capital sul alentejana (a eterna esquecida), quando este, ao que parece, se destinava a uma importante cidade algarvia.


Se assim é, foi a primeira e última vez, já que é hábito, ao que parece, dos muitos governos que por aqui fizeram História esquecerem, quase sistematicamente, esta cidade, quando os ventos apontam algo de importante na valorização da urbe.


Agora, por exemplo, temos no ar a vaga promessa da construção de um aeroporto em local onde hoje se situa a Base Aérea 11, mas, estamos convictos, muita água correrá ainda debaixo das pontes, antes de descerem do céu, com armas e bagagens, aqueles que um dia, hão-de ser os primeiros passageiros a chegar a Beja por via aérea.


Mas voltemos ao Liceu de Beja, inaugurado que foi há 68 anos, quando eu, verdade se diga, ainda era muito menino.


Lembro-me, no entanto, embora de forma muito nebulosa, que no decurso das solenidades que assinalaram a inauguração da importante obra, estive ao colo de minha mãe, muito próximo das referidas instalações, que festa é festa, e que depois da “vinda do Rei a Beja”, nenhum outro figurão, até essa data (que eu saiba), se atrevera a cruzar as nossas frágeis fronteiras.


Agora toda a população parecia embasbacada com a presença do então Presidente da República, general Óscar fragoso Carmona, de que recordo um pouco o brilho dos seus galões. Que diabo, era um general e logo Presidente da República. Houve palmas e foguetes, como é da praxe, e certamente algumas resmas de papel foram esgotadas com escritos de inflamados discursos, que o fascismo e seus acólitos, já andavam por aqui a dar as primeiras passadas.


O facto é que Beja sentia-se orgulhosa daquela sua importante escola, “meta” superior de quantos completavam a primária e os familiares ainda dispunham de alguns meios que lhes permitiam, se o moço tivesse cabeça, avançar com a criança para estudos de maior folgo, que a passagem no exame de admissão aos liceus já estava garantida.


E aquele mundo, para os que ainda podiam atingir tal patamar, era outra coisa. Tudo ali era novidade, inclusive as classes sem discriminação de sexo, e a escapadela à imposta uniformização da farda da MP que começava a infiltrar-se no ensino básico das nossas escolas. Já no Liceu, pelo contrário, dávamo-nos mesmo ao luxo de substituir essa tão caricata “fardajola”, pela tradicional “capa e batina”. E mais: A vestimenta académica permitia até, a quem o usava, não só assistir a todas as solenidades, como ostentar prosápias de cultura, excessivamente enganosas…mas simpáticas!


Era assim o nosso velho Liceu, com a sua “Festa do Galo” de quatro em quatro anos; os seus renhidos jogos de futebol em campeonatos com a Académica (de Beja) a dar um ar de sua graça, e a malta na claque, expressando-lhe o seu entusiástico apoio, com o conhecido grito de guerra Efeerreá.


Coisas bonitas dos anos Quarenta, que animavam por esses recuados tempos, esta minha pequena cidade!

3 comentários:

Anónimo disse...

Interessante texto. Obrigado. Vou reencaminhar para alguns.

Um abraço
A. Cavaco

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Por se encontrar repetido, um dos comentários foi eliminado. Isto para não haver interpretações dúbias.

Anialber